João José Silva
03.03.25
Cupido, no alto do seu pedestal, vigia e protege os alvos escolhidos das suas setas amorosas. Graças à sua proteção, as relações resistem a contratempos, mais ou menos tempestuosos, mantendo a afetividade e os galanteios – nem todos resistem, mas a tentativa e erro é o que estimula este ser mitológico.
Na posição de espetador, é bonito assistir à união entre duas pessoas e perceber que ambas emanam energia positiva, contudo, existem casais que expõe demais a sua intimidade em praça pública, o que cria desconforto para quem os circunda.
Da mesma forma que existe uma entidade que protege os enamorados das “tentações externas”, deveria existir uma que protegesse as restantes pessoas das “tentações” dos enamorados – já irão compreender onde quero chegar.
Em conversas, apercebi-me que não sou o único a sentir esta mesma repulsa. Casais, sedentos de afeto, que se beijam e amassam com forte intensidade, em público. Se sentem tal fugacidade, estejam à vontade de satisfazê-la, mas não é preciso à frente de toda a gente – ninguém tem culpa que não se saibam controlar. O cúmulo, centra-se nos beijos barulhentos, com as trocas de saliva que se assimilam ao choque abrupto entre dois rios embravecidos – é como mastigar de boca aberta e a fazer barulho (desagradável e incomodativo).
Como me aconteceu recentemente, estava sozinho à espera que começasse um concerto, num canto, sem perturbar a passagem das outras pessoas e ao lado da barraca de comes e bebes – estava bem posicionado. Nisto, aparece um casal, não muito jovem, que para ao meu lado e começa com a tal sequência de beijos e apalpões. Ainda tentei disfarçar, fingindo que nada estava a acontecer ao meu lado, mas a audição e a visão periférica não mentem. Fui para assistir o concerto, não cenas extras de fraca qualidade. No fim, chateado, acabei por ir embora.
O que se pede às pessoas, em zonas públicas, é o mínimo de dever cívico. Ninguém é obrigado a levar com as carências dos outros. Às vezes, apetece começara a andar com um extintor às costas para acalmar as “chamas” dos namoradinhos – isso, ou atira-lhes com ele à cabeça a ver se endireita alguma coisa.