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#NãoSouSóEuQuePensoNisto

A partilha de ideias e reflexões de um jovem a quem o MUNDO lhe intriga.


João José Silva

03.03.25

Cupido, no alto do seu pedestal, vigia e protege os alvos escolhidos das suas setas amorosas. Graças à sua proteção, as relações resistem a contratempos, mais ou menos tempestuosos, mantendo a afetividade e os galanteios – nem todos resistem, mas a tentativa e erro é o que estimula este ser mitológico.

Na posição de espetador, é bonito assistir à união entre duas pessoas e perceber que ambas emanam energia positiva, contudo, existem casais que expõe demais a sua intimidade em praça pública, o que cria desconforto para quem os circunda.

Da mesma forma que existe uma entidade que protege os enamorados das “tentações externas”, deveria existir uma que protegesse as restantes pessoas das “tentações” dos enamorados – já irão compreender onde quero chegar.

Em conversas, apercebi-me que não sou o único a sentir esta mesma repulsa. Casais, sedentos de afeto, que se beijam e amassam com forte intensidade, em público. Se sentem tal fugacidade, estejam à vontade de satisfazê-la, mas não é preciso à frente de toda a gente – ninguém tem culpa que não se saibam controlar. O cúmulo, centra-se nos beijos barulhentos, com as trocas de saliva que se assimilam ao choque abrupto entre dois rios embravecidos – é como mastigar de boca aberta e a fazer barulho (desagradável e incomodativo).

Como me aconteceu recentemente, estava sozinho à espera que começasse um concerto, num canto, sem perturbar a passagem das outras pessoas e ao lado da barraca de comes e bebes – estava bem posicionado. Nisto, aparece um casal, não muito jovem, que para ao meu lado e começa com a tal sequência de beijos e apalpões. Ainda tentei disfarçar, fingindo que nada estava a acontecer ao meu lado, mas a audição e a visão periférica não mentem. Fui para assistir o concerto, não cenas extras de fraca qualidade. No fim, chateado, acabei por ir embora.

O que se pede às pessoas, em zonas públicas, é o mínimo de dever cívico. Ninguém é obrigado a levar com as carências dos outros. Às vezes, apetece começara a andar com um extintor às costas para acalmar as “chamas” dos namoradinhos – isso, ou atira-lhes com ele à cabeça a ver se endireita alguma coisa.


João José Silva

20.02.25

Estava eu a vaguear pela rede social, Facebook – sim, sou jovem e sim, ainda uso Facebook – quando nisto, aparece-me a republicação de uma crónica escrita por Catarina Valadão, no jornal ‘Açoriano Oriental’, com o título “Em Portugal, sê português”. Confesso que fiquei intrigado com esta frase inicial e decidi aprofundar-me na leitura da mesma.

Em traços gerais – desde já aconselho a leitura da crónica – o que a Catarina expõe é um sentimento de uma mudança bastante rápida do paradigma da ilha de São Miguel em relação ao turismo e à imigração, com destaque para a substituição do português, língua materna, por uma estrangeira (inglês, francês, alemão, etc.).

Sendo natural e tendo vivido a maior parte da minha vida numa ilha com uma grande massa turística – ilha da Madeira – sinto uma familiaridade com a opinião exposta nesta crónica. Igual à Catarina, afirmo que não sou contra o turismo ou à imigração – há que reconhecer os benefícios dos mesmos para as nossas regiões e país –, o que sou contra, é a substituição da nossa língua pelos estrangeirismos. Se formos a pensar, o ponto mais enriquecedor de uma viagem a um outro país e cultura é a tentativa de aprendizagem dessa mesma – com destaque para as expressões e tradições locais. Se quando saímos de Portugal, muitas vezes, vemo-nos obrigados a essa aprendizagem – pessoalmente, acredito ser um desafio bastante enriquecedor – pela preservação dos povos recetores com a suas culturas, pergunto então se o mesmo não deve acontecer com os de fora que querem descobrir Portugal?

O português na sua génese, é povo adaptável e que sabe receber bem os de fora, contudo, por vezes, adapta-se tanto que acaba por se esquecer daquilo que é culturalmente seu.

Com destaque para a componente linguística, confesso que tenho muitas vezes esta discussão com o meu grupo de amigos. A malta da minha idade, sofre de uma doença gravíssima que se denomina de “apropriação excessiva de estrangeirismos” – a verdade é que, por vezes, reconheço sentir alguns sintomas da mesma. O que mais apanho por aí, são jovens que não dizem duas, três frases sem incorporarem estrangeirismos nas mesmas – principalmente o inglês. Chega a momentos que já não sabem a palavra portuguesa para expressar o que querem e utilizam o estrangeirismo. Reconheço que a incorporação das palavras estrangeiras é algo natural devido ao estado de globalização em que vivemos e a grande importação de literatura, música e entretenimento, contudo, acredito que tudo o que em excesso é prejudicial e há que se existir um equilíbrio entre as partes, porque se não, a homogeneidade cultural impulsionada pela globalização, pode ser tornar algo dominante e irreparável.

Como já dizia o rapper Sam da Kid, na sua afamada música de 2006, “Poetas de Karaoke”, há que manter e cuidar a identidade linguística que representa o nosso povo e os nossos antepassados, com todas as suas peculiaridades.


João José Silva

18.02.25

A questão do TEMPO é algo me fascina. TODOS estamos a ficar mais velhos, é um facto. Por mais produtos de beleza que pastemos nos nossos corpos e mais cirurgias que façamos, a nossa AMPULHETA DA VIDA, continua, incessantemente, a derramar os seus grãos de areia, ou seja, em algum momento esse processo terá um fim – a incerteza dessa precisão é uma virtude.

Apesar de termos consciência de que “o tempo passa”, estranhamos quando nos acontece algo que julgávamos só suceder daqui a uns anos. Exemplifico com os tópicos que me tem surpreendido nos últimos tempos: casamento e gravidez.

Ainda estou na primeira metade da década dos 20 e pasma-me receber notícias constantes de gente, da minha idade, um pouco superior, ou inferior, a anunciar os seus casamentos ou a se prepararem para receber o primeiro filho.

Como diz o povo e com razão, “cada um sabe si”, nem é por que quero discutir, mas sim o facto da estranheza de perceber que, mais ou menos, à 5 ou 6 anos atrás estávamos no mesmo ano escolar, ou mais ou menos parecido, a começar o chamávamos, “a vida de jovem” – namoros, festas, descobertas, loucuras, etc.

Confesso que estes 5, 6 anos, passaram num estalar de dedos. Realmente, o TEMPO não para e pelo que me foi apercebendo em conversas com pessoas mais velhas, esta sensação de estranheza tornar-se-á cada vez maior.

Noto que não deixa de ser engraçado que, ao mesmo tempo que estranhamos o avançar do TEMPO, em certas alturas, desejamos que o mesmo avance – o que acontece com maior regularidade do que realmente imaginamos. Afinal, o que é que queremos?

Apesar de desejarmos que o TEMPO, abrande, ou se estagne, com a mesma intensidade almejamos alcançar o dia seguinte. Pessoalmente, julgo que é uma dualidade estranha e deslumbrante.


João José Silva

06.02.25

É facto que a especulação imobiliária anda a ferver nestes últimos tempos. Um outro facto é que este “grande momento mercantil”, não será eterno e trará várias consequências para um futuro que, suspeito que não será muito longínquo.

Em conversas entre amigos, um deles fez a analogia do que estamos a viver com um balão de festas. Supramos, supramos, supramos até ao seu tamanho e máximo e num descuido de ganância…, BOOM! O balão rebenta-nos nas mãos.

A cada semana, somos confrontados com as notícias mais variadas sobre o tema: “preço por metro quadrado a níveis recorde”, “grande procura e pouca oferta de habitações”, “a população preocupada com os problemas no setor da habitação”, “grandes investimentos no setor da construção”, “grande número de habitações residenciais convertidas em alojamentos turísticos” e entre muitas outras manchetes que até perdemos a conta.

Uma das notícias que me mais me marcou, foi a que vi há tempos no jornal Expresso, que dizia: “10% das casas em Lisboa e no Porto, estão vazias”. Ao primeiro raciocínio, encontramos uma solução rápida e prática, contudo, este problema é um iceberg com uma massa de gelo invisível de dimensões astronómicas. Casas abandonadas, muitas vezes por dificuldades de investimento, ou problemas de herdeiros. Caso um destes dois tópicos seja resolvido, ou são convertidas em casas de luxo com valores altíssimos vendidas, na sua maioria, a investidores estrangeiros ou transformadas em alojamentos turísticos – “para compensar o valor da reconstrução/restauro”.

Agora, a pergunta essencial concentra-se em: E a população residente, vai para onde?

Uma das soluções é mudança para as periferias, onde os preços são mais em conta – uma diferença não muito significativa –, mas que obrigam a grandes deslocações, muitas vezes em relação ao trabalho e essas zonas sofrem da falta de investimento em ofertas mercantis, de lazer, etc. Para além da necessidade de construção de cada vez mais habitações para acomodar a procura – onde houver um buraco, constrói-se um prédio.

A verdade, é que a até as zonas rurais estão na mira dos investidores turísticos com as novas ofertas de alojamentos, para “experiências turísticas foram dos centros urbanos”.

Sou da ilha da Madeira e esta problemática é flagrante! Numa pesquisa curiosa aos preços dos terrenos e habitações nos principais sites imobiliários da região, quase desloquei o queixo ao comparar o que estava a ser oferecido com o valor pedido. Não me refiro a 1, 2, ou 3 casos, a verdade, é que não tenho dedos que contabilizem o número de casos. Outro ponto é a intensificação da destruição em zonas verdes ou de plantação para a construção de torres de betão e ferro, que acabam com a essência natural e histórica da zona onde são erguidos. Quanto a nível turístico, a dependência deste setor na região é gigantesca.

Com todos estes argumentos, as minhas questões reduzem-se a:

Como é possível, um jovem a título individual, ou em casal, adquirir a sua própria habitação? As únicas opções são o aluguer, ou o endividamento de uma vida aos bancos com o pagamento dos juros?

A questão do Turismo, apesar de ser um grande impulsionador da economia, se Portugal deixar de estar no favoritismo como destino de férias, ou voltarem a acontecer as problemáticas de uma nova pandemia, o que será de nós? Como nos iremos sustentar, se grande parte do nosso sustento depende deste setor?

Como já esperado, questões sem resposta à vista, que, como diz o povo e com razão, são temas que a discussão “dará pano para mangas”.

Acredito fielmente na importância da consciência de tais problemas, para estarmos prepararmos para possíveis futuros atribulados. Novamente, como diz o povo e com razão: “mais vale prevenir, que remediar”.


João José Silva

17.01.25

Se acompanhamos diariamente, com afinco, o contexto político e social em que nos rodeia, é aconselhável que, de vez em quando, tenhamos oportunidade de sair dessa “bolha mediática”, para bem da nossa sanidade mental. Uns encontram esse “escape” em filmes ou livros, outros em caminhadas pela natureza, ou então no preparo de refeições apetrechas – a lista continua a crescer. Pessoalmente, entro num estado de relaxamento tal, que me leva a reflexões que, à primeira vista, podem parecer MOMENTOS DE DELÍRIO. A título de experiência, confirmo que, apesar de estranhas, essas viagens são bastante enriquecedoras e aliviantes.

IMAGINEM COMIGO: Nós, humanos, comunicamo-nos a partir de uma sequência de signos e códigos que desenvolvemos ao longo da nossa EVOLUÇÃO. Certos povos têm os seus signos próprios, mas muitos desses são partilhados, como por exemplo, as letras, os números, as cores e por aí segue-se a lista. Por outras palavras, existe uma base comunicacional que nos permite interagir uns com os outros.

Numa perspetiva diferente – quando me refiro a “diferente”, não é “outro povo”, mas sim “outra espécie”. Como assim? Os cães, por exemplo – os códigos que assumimos como certos em qualquer parte do mundo em que nos encontremos, caiem por terra, porque os mesmos não são reconhecidos.

Aprofundo a minha teoria com o seguinte exemplo: os cães, não sabem que a cor azul, se chama “azul”, ou então que a comida, designamos pela palavra “comida”, ou ainda então, que um sorriso é um código de felicidade – isso, ou “pseudo felicidade”, se entrarmos nos requisitos do sarcasmo, mas é melhor deixaremos este ponto de parte para não confundirmos mais as cabeças.

Por outras palavras, os nossos signos, noutro contexto, são inexistentes. Estes seres, para se comunicarem, criaram os seus próprios códigos. Na minha cabeça, só imagino como seria sermos confrontados com essa realidade neste exato momento – quando recém-nascidos, TODOS passámos por essa fase, o que acontece é que não nos lembramos dessa época. UMA REALIDADE EM QUE TEMOS DE REAPRENDER TUDO.

Deixo-vos algumas questões que até hoje me ressoam:

  • O quão estranho seria esse confronto? Como seria a adaptação?
  • Criaríamos códigos diferentes dos que temos agora?
  • Seríamos mais eficazes nessa criação, visto que, segundo a ciência, geneticamente somos mais evoluídos que os nossos antepassados neandertais?
  • Ou então demoraríamos mais, visto que desaprendemos grande parte dos instintos selvagens dos mesmos?


João José Silva

14.01.25

Se o título deste texto também ressoou nas vossas cabeças, então posso confirmar que não sou o único LOUCO que acha este pensamento intrigante.

Realmente, é uma frase bastante profunda e, por mais estranho que pareça, acontece com maior frequência e proximidade do que imaginamos.

Como é que pensei nisto? Um dia destes, estava eu a preparar-me para dormir, quando naquele momento que antecede o sono profundo – pensamos em tudo e mais alguma coisa, mas adormecer, que é bom, não –, fui surpreendido por este pensamento. Em que contexto? Em relação ao ensino universitário – CALMA, que eu passo a explicar!

Não são todos os casos, mas algumas pessoas, antes de ingressarem ou durante o ensino universitário, estão ativos no regime laboral – uma atitude que aconselho vivamente a praticarem. Nesse período, estão em contacto direto com os desafios do mundo laboral e, por sua vez, recebe monetariamente pelo seu trabalho realizado. Por vezes, o trabalho até pode não ser do agrado do trabalhador, mas a recompensa monetária no final do mês, é um incentivo à continuação da prática.

Ao trocarmos a mesma situação para o contexto universitário, a nota final de cada unidade curricular, não tem o mesmo valor de incentivo do que teria o valor monetário. Além do mais, para frequentar um curso universitário, é necessário pagar uma certa contribuição – ou seja, PAGAR PARA TRABALHAR. Em alguns dos casos, os trabalhadores-estudantes, se já trabalharem nas áreas em que estão a estudar, questionam pela continuidade dos estudos, visto que o acréscimo do “canudo”, não é algo que lhes vá compensar.

Tenho noção que ambos os regimes têm objetivos finais diferentes e que esta comparação, a certos olhos, pode parecer um MOMENTO DE DELÍRIO. No entanto, um tema relacionado a ambos os tópicos, abala o meu consciente com uma certa frequência, que é:

  • Mesmo em contexto de estágio, trabalhando numa empresa, ou mesmo em contexto laboral na universidade, não tenho direito de receber monetariamente pelo meu trabalho? – quanto aos valores, sou apologista de um debate. Como estaríamos em fase de integração, aprendizagem e acompanhamento, estes deveriam ser proporcionais a tal;
  • O trabalho remunerado não responsabilizaria o indivíduo ao cumprimento e ao rigor na realização das suas tarefas?

TODO o trabalho realizado para fins lucrativos deve ser recompensado monetariamente. Fico surpreso que as universidades, locais de ensino das boas práticas laborais e dos direitos dos trabalhadores, sejam as primeiras a encaminhar-nos para um tipo de trabalho exploratório por conta de outrem. Mas também, num mundo em que somos apenas NÚMEROS e o CAPITAL é a doutrina, onde é que há lugar para a EMPATIA?


João José Silva

11.01.25

A evolução tecnológica chegou a um ponto, que nos permite uma capacidade astronómica de conhecimento, acessível por um equipamento que nos cabe nas mãos. Se conseguíssemos viajar no tempo e apresentar esta informação aos nossos antepassados – e não puxo a bobina para muito longe, uns 100 anos já é suficiente – diriam que somos LOUCOS.

É verdade que com este PODER todo, certas responsabilidades devem ser praticadas para um uso correto e harmonioso, contudo, existem certas conquistas que me deixam em dúvida sobre essa “utilização sana” do PODER. Entre elas, uma que tenho presenciado com maior regularidade, é a geolocalização.

Quando comento sobre esta funcionalidade, sei perfeitamente da importância que têm para a nossa sociedade, principalmente para a salvaguarda de vidas – tanto em risco de morte, como de ataques de coração, quando nos perdemos, ou algum objeto importante desaparece.

Nas camadas mais jovens a moda está na utilização de pequenos rastreadores portáteis – os mais famosos são os Apple Air Tag e os Samsung SmartTag, mas existem outros de outras fabricantes. Estes pequenos equipamentos servem, como o próprio nome indica, para rastrear algo que não desejamos perder, como o carro, a mala de viagem, o chaveiro, o animal de estimação – a lista é grande. No entanto, o que tenho presenciado com certa regularidade e, diria até, com escárnio, é a localização dos namorados/as – destaco as mulheres como maiores utilizadoras desta técnica.

Chega a ser cómico e ao mesmo tempo desconcertante, ver a rapariga, ou o rapaz, a procurar o seu namorado/a pelo localizador do telemóvel numa saída à noite, ou então calcular os minutos que demora a fazer de carro o trajeto do trabalho até casa. Estas situações fazem-me questionar:

  • Será que este controlo não excede os parâmetros de uma relação saudável? – não me refiro unicamente à amorosa.
  • Estes métodos são sempre utilizados com a consciência do outro?
  • Até que ponto é que deixamos de respeitar a liberdade individual do outro?

Não contesto a boa função destes equipamentos e o lado “nobre” das suas funcionalidades. Sou a favor de uma utilização com responsabilidade e consciência cívica, algo que acredito que devemos apregoar mais na sociedade em que vivemos.


João José Silva

10.01.25

Quem é que se espera ser abordado na rua por um senhor com uma certa idade, vestido de pijama, a solicitar ajuda para levantar a sua mulher que havia caído da cama? Assumo que ninguém aguardaria por tal, mas como diz o povo e com razão, “a vida pregar-nos partidas”.

Como devem imaginar pela especificidade da descrição, foi exatamente isto que me aconteceu. Estava eu a me dirigir para um bar, encontrar-me com uns amigos, estacionei o carro um pouco distante do local e tive de fazer o percurso a pé - nada por aí além. Nisto, de uma arruela, aparece-me um senhor, por volta dos 80 anos, vestido de pijama, a vir em minha direção - neste momento, como acredito que acontecesse com toda a gente, fiquei em alerta com a situação. O homem aproximou-se e disse-me, “Desculpe, boa noite. Pode me ajudar a levantar a minha mulher? Ela caiu da cama e eu não tenho força para a levantar.”. Quando ele me diz aquilo, sem hesitar, respondo que o iria ajudar, mas, no mesmo instante, inconscientemente, uma dúvida começou a gritar-me no cérebro, “E se o homem tem demência, ou alzheimer e este é um dos devaneios dele? O que é que eu faço?” - quem já lidou e lida com gente com estas doenças, sabe que casos como este são possíveis de acontecer.

De qualquer modo, mesmo hesitante, segui o homem até onde ele queria me levar. Lá me falou que tinha ido bater à porta do filho que mora ali perto, mas ele não estava em casa. A verdade é que a minha cabeça insistia na dúvida, “Será real, ou um devaneio?”.

“Só terei a certeza quando vir a mulher no chão!”, pensava para mim e foi exatamente o que aconteceu. Lá estava a mulher, felizmente, sem se ter magoado, deitada no chão do quarto. A senhora tem dificuldades em deslocar-se e quando estava a sair da cama, escorregou, caiu e não se conseguia levantar sozinha. Lá consegui levantar a senhora e voltar a deitá-la na cama. O casal agradeceu a minha ajuda e eu voltei para o meu objetivo inicial de chegar ao bar.

Após este momento, no percurso até ao bar, comecei a repensar sobre o sucedido e a questionar sobre:

  • Por que razão, associei que o senhor poderia sofrer de demência ou alzheimer? É pela alta probabilidade, visto que o homem estava vestido de pijama, sozinho e no meio da noite? Seria pela ânsia de não saber como reagir num caso desses?
  • Como eu ajudei, uma outra pessoa o poderia ter feito, mas, se o senhor não encontrasse ninguém na rua - e realmente, não havia mais ninguém -, como seria? Ficaria sem ajuda? Porque é que ele não bateu à porta de um vizinho e teve de ir pedir à rua? Não tem o número de telemóvel ou telefone fixo do filho?

E muitas outras me vieram à cabeça. Em conversas póstumas com outras pessoas conhecidas sobre acontecimentos semelhantes em volta do mesmo tema, viemos a ressaltar a atenção a ter com pessoas de idade avançada que vivem sozinhas. Até podem ser bastante autónomas, mas se de um momento para o outro acontece algo de grave, acabam perdidas no esquecimento. Estes factos são tristes e desesperantes, visto que pela LEI DA VIDA, não vamos para novos e o nosso FUTURO é esse.

Existe um provérbio que gosto bastante e acredito que encaixa neste tema, que é: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.”. Por consequência, o vice-versa.


João José Silva

08.01.25

É facto que com tantos estímulos ao nosso redor, a cada segundo, os nossos cérebros não são capazes de reter todas as informações. Algumas mais complexas, outras mais simplificadas, mas, neste último caso, o que ficam são histórias e reflexões, de certo modo, cómicas.

Estava eu com uma amiga numa conversa casual, até que ela decide aquecer água numa chaleira elétrica para fazer chá. Lá ela encheu a chaleira e a pôs a aquecer. Eu nem coloquei muita atenção ao ato que ela estava a realizar, afinal, não era nada por aí além e foquei-me no conteúdo da conversa. Continuámos a conversar normalmente, quando, de repente, a chaleira deu sinal que estava a começar a ferver – aqueles segundos antes do sistema terminar o aquecimento. Estranhei que ao acompanhar o barulho do chiar da água a ferver, escutava um som de borbulhar anómalo. Ao olhar para a chaleira reparei que, com a força do efervescer, começou a transbordar alguma água. Fiquei atónito, porque costumo utilizar a mesma chaleira e nunca me havia transbordado. Algo ali não estava bem!

Qual não foi o meu espanto que de seguida ela olha para chaleira e diz: “É normal. A mim, está me sempre a acontecer.” e eu a pensar para mim mesmo, “Como assim “é normal”?”. Ela vai a deitar a água para dentro da garrafa térmica, quando, no momento de movimentação, olho para a zona do medidor da água e a marca do limite está ultrapassada até à borda! Eureca! É este o problema!

TODOS estamos sujeitos ao descuido. É algo natural e acontece com certa frequência. No entanto, este facto não invalida a necessidade de existência de um sentido de responsabilidade de procurar que tal não volte a acontecer. Neste caso, pode não ser nada de grave, mas em outra situação, com outro tipo de equipamento ou produto, pode ocorrer em algo perigoso. Afinal, o limite sinalizado existe por alguma razão, não apenas por um sentido estético.


João José Silva

07.01.25

Os supermercados, além de espaços para adquirirmos produtos e abastecermos as nossas casas, é um local propício ao acontecimento de momentos insólitos. Pelo menos, uma vez na vida, TODOS já tivemos momentos estranhos, ou constrangedores no supermercado - ser confundido com alguém, depararmo-nos com uma pessoa que não queríamos ver, cenas de discussão, entre muitas outras. O que se passou comigo, não foi dos momentos mais estranhos que já passei, mas fez-me repensar sobre certas condutas e crenças que seguia.

Estava a fazer as compras da semana e tenho o hábito de aproveitar as promoções dos produtos que estão a chegar perto do prazo de validade - normalmente, são os produtos “diferentes” que costumo acrescentar ao meu cabaz, porque se não estivessem em desconto, ao preço que estão, certamente não os iria comprar. Um dos produtos que escolhi foi daqueles cogumelos frescos fatiados, que veem em cuvetes. Notava-se que o produto não era do dia, mas na realidade, pouco me importava que fosse ou não do dia, queria-os, porque estavam em promoção - o lado forreta a vir ao de cima.

Entretanto, fiz o resto das compras e fui para a caixa. Raramente vou para as caixas automáticas, apesar de reconhecer o potencial prático das mesmas, gosto de sentir uma certa “conexão humana” do outro lado da caixa, se é que me faço entender - este ponto é bastante importante para a reflexão da história.

Coloco as minhas compras na esteira e, por coincidência, os cogumelos são o primeiro produto que a senhora que me atendia segurou. Ela olha para os cogumelos e diz: “Você não vai levar isto.”. Confuso, questionei: “Desculpe, como assim?”, no que ela me responde: “Não estão bons, não estão dignos para venda. Tente ver outros, que estes não estão bons”. Obedeci ao que a senhora me disse, mas mais nenhuma cuvete estava com aquela promoção, então acabei por não levar cogumelos nenhuns.

A história parece fraquinha e sem muito aprendizado, mas fez-me pensar nos seguintes pontos:

  1. se não fosse a senhora a dizer para não levar os cogumelos, ao comer podia me ter dado alguma coisa má - posso até estar a exagerar, mas nunca se sabe. Se fosse uma máquina, não me diria nada;
  2. a honestidade da senhora que ao ver que o produto que estava na melhor condição, aconselhou-me/“obrigou-me” a não comprar. Se fosse uma máquina, deixaria que gastasse o dinheiro naqueles cogumelos;
  3. a mentalidade do “poupar até ao último tostão”, comprando, às vezes, produtos em não tão boa qualidade para salvaguardar mais alguns trocos. “Sacrificar o bem-estar, em prol das economias”;

O 3º ponto foi o que mais me impactou e fez questionar sobre o seguinte: Sei que vivemos em tempos em que o “POUPAR” é uma regra de ordem, contudo, até que ponto esta doutrina deve ser posta em prática nas nossas vidas?

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