Quem é que se espera ser abordado na rua por um senhor com uma certa idade, vestido de pijama, a solicitar ajuda para levantar a sua mulher que havia caído da cama? Assumo que ninguém aguardaria por tal, mas como diz o povo e com razão, “a vida pregar-nos partidas”.
Como devem imaginar pela especificidade da descrição, foi exatamente isto que me aconteceu. Estava eu a me dirigir para um bar, encontrar-me com uns amigos, estacionei o carro um pouco distante do local e tive de fazer o percurso a pé - nada por aí além. Nisto, de uma arruela, aparece-me um senhor, por volta dos 80 anos, vestido de pijama, a vir em minha direção - neste momento, como acredito que acontecesse com toda a gente, fiquei em alerta com a situação. O homem aproximou-se e disse-me, “Desculpe, boa noite. Pode me ajudar a levantar a minha mulher? Ela caiu da cama e eu não tenho força para a levantar.”. Quando ele me diz aquilo, sem hesitar, respondo que o iria ajudar, mas, no mesmo instante, inconscientemente, uma dúvida começou a gritar-me no cérebro, “E se o homem tem demência, ou alzheimer e este é um dos devaneios dele? O que é que eu faço?” - quem já lidou e lida com gente com estas doenças, sabe que casos como este são possíveis de acontecer.
De qualquer modo, mesmo hesitante, segui o homem até onde ele queria me levar. Lá me falou que tinha ido bater à porta do filho que mora ali perto, mas ele não estava em casa. A verdade é que a minha cabeça insistia na dúvida, “Será real, ou um devaneio?”.
“Só terei a certeza quando vir a mulher no chão!”, pensava para mim e foi exatamente o que aconteceu. Lá estava a mulher, felizmente, sem se ter magoado, deitada no chão do quarto. A senhora tem dificuldades em deslocar-se e quando estava a sair da cama, escorregou, caiu e não se conseguia levantar sozinha. Lá consegui levantar a senhora e voltar a deitá-la na cama. O casal agradeceu a minha ajuda e eu voltei para o meu objetivo inicial de chegar ao bar.
Após este momento, no percurso até ao bar, comecei a repensar sobre o sucedido e a questionar sobre:
- Por que razão, associei que o senhor poderia sofrer de demência ou alzheimer? É pela alta probabilidade, visto que o homem estava vestido de pijama, sozinho e no meio da noite? Seria pela ânsia de não saber como reagir num caso desses?
- Como eu ajudei, uma outra pessoa o poderia ter feito, mas, se o senhor não encontrasse ninguém na rua - e realmente, não havia mais ninguém -, como seria? Ficaria sem ajuda? Porque é que ele não bateu à porta de um vizinho e teve de ir pedir à rua? Não tem o número de telemóvel ou telefone fixo do filho?
E muitas outras me vieram à cabeça. Em conversas póstumas com outras pessoas conhecidas sobre acontecimentos semelhantes em volta do mesmo tema, viemos a ressaltar a atenção a ter com pessoas de idade avançada que vivem sozinhas. Até podem ser bastante autónomas, mas se de um momento para o outro acontece algo de grave, acabam perdidas no esquecimento. Estes factos são tristes e desesperantes, visto que pela LEI DA VIDA, não vamos para novos e o nosso FUTURO é esse.
Existe um provérbio que gosto bastante e acredito que encaixa neste tema, que é: “Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti.”. Por consequência, o vice-versa.