João José Silva
20.02.25
Estava eu a vaguear pela rede social, Facebook – sim, sou jovem e sim, ainda uso Facebook – quando nisto, aparece-me a republicação de uma crónica escrita por Catarina Valadão, no jornal ‘Açoriano Oriental’, com o título “Em Portugal, sê português”. Confesso que fiquei intrigado com esta frase inicial e decidi aprofundar-me na leitura da mesma.
Em traços gerais – desde já aconselho a leitura da crónica – o que a Catarina expõe é um sentimento de uma mudança bastante rápida do paradigma da ilha de São Miguel em relação ao turismo e à imigração, com destaque para a substituição do português, língua materna, por uma estrangeira (inglês, francês, alemão, etc.).
Sendo natural e tendo vivido a maior parte da minha vida numa ilha com uma grande massa turística – ilha da Madeira – sinto uma familiaridade com a opinião exposta nesta crónica. Igual à Catarina, afirmo que não sou contra o turismo ou à imigração – há que reconhecer os benefícios dos mesmos para as nossas regiões e país –, o que sou contra, é a substituição da nossa língua pelos estrangeirismos. Se formos a pensar, o ponto mais enriquecedor de uma viagem a um outro país e cultura é a tentativa de aprendizagem dessa mesma – com destaque para as expressões e tradições locais. Se quando saímos de Portugal, muitas vezes, vemo-nos obrigados a essa aprendizagem – pessoalmente, acredito ser um desafio bastante enriquecedor – pela preservação dos povos recetores com a suas culturas, pergunto então se o mesmo não deve acontecer com os de fora que querem descobrir Portugal?
O português na sua génese, é povo adaptável e que sabe receber bem os de fora, contudo, por vezes, adapta-se tanto que acaba por se esquecer daquilo que é culturalmente seu.
Com destaque para a componente linguística, confesso que tenho muitas vezes esta discussão com o meu grupo de amigos. A malta da minha idade, sofre de uma doença gravíssima que se denomina de “apropriação excessiva de estrangeirismos” – a verdade é que, por vezes, reconheço sentir alguns sintomas da mesma. O que mais apanho por aí, são jovens que não dizem duas, três frases sem incorporarem estrangeirismos nas mesmas – principalmente o inglês. Chega a momentos que já não sabem a palavra portuguesa para expressar o que querem e utilizam o estrangeirismo. Reconheço que a incorporação das palavras estrangeiras é algo natural devido ao estado de globalização em que vivemos e a grande importação de literatura, música e entretenimento, contudo, acredito que tudo o que em excesso é prejudicial e há que se existir um equilíbrio entre as partes, porque se não, a homogeneidade cultural impulsionada pela globalização, pode ser tornar algo dominante e irreparável.
Como já dizia o rapper Sam da Kid, na sua afamada música de 2006, “Poetas de Karaoke”, há que manter e cuidar a identidade linguística que representa o nosso povo e os nossos antepassados, com todas as suas peculiaridades.